Esquivando-me de camelôs, trombando contra transeuntes transtornados pelo caos e pela correria da rua, me deparo com uma espécie de onda humana que me carrega e me despacha no meio de uma loja com luzes frias e uma grande variedade de produtos. No fim da loja consigo avistar uma porta com fotos de esfihas, picolés e refrigerantes, e imediatamente sinto um barulho vindo da minha barriga. Depois de caminhar por horas sem ter aonde sentar ou o que comer, ver essa porta foi quase uma miragem. Caminho até ela enquanto uma música do Phil Collins toca pela loja inteira.
Ao me aproximar da porta, vejo que ela não é uma porta comum, mas sim uma porta de elevador. Nela está escrito que existe um café no último andar da loja. Aperto o botão e espero o elevador chegar. Entro nele e me deparo com um espaço pequeno e escuro. Uma moça que trabalha no elevador pergunta para que andar desejo ir, e eu digo que quero ir para o café. Ela aperta o botão de número 4. Ao subir, percebo que a parede de trás do elevador é de vidro. Conforme o elevador sobe, vejo o movimento das pessoas nos andares de cima dos edifícios e nas calçadas. A música tocando é uma famosa do Hadaway, chamada “what is love”. Em um piscar de olhos estou no 4 andar, a porta abre e me deparo com um amontoado de tecidos e compradores com suas sacolas plásticas. Continuo andando até o fundo da sala e vejo o café! Vejo as esfihas e outros mil doces e salgados árabes. Vou até a varanda e levo um susto. Pela primeira vez, vejo a 25 de cima. Me sinto, de certa forma, importante. Como se tivesse o poder de monitorar toda a confusão que está rolando lá embaixo e entender cada movimento e interação entre as pessoas.